A TRIBUNA: Porto de Jaconé – Entrevista na Íntegra

RETIREI O NOME PARA NÃO EXPOR OS JORNALISTAS

Prezado Sr. XXXXXX XXXXXXXX,

Boa tarde!

Acredito que a colega que se referiu deva ser a ZZZZZZZ ZZZZZZZZZZ, a qual lhe encaminho o link https://barlaventoesotavento.wordpress.com/2013/04/17/minha-resposta-a-jornalista-da-a-tribuna/ da resposta na íntegra que ela utilizou como parte em seu artigo, mais tarde o link http://www.atribunarj.com.br/noticia.php?id=10357&titulo=MARIC%C1%3A+Gasoduto+do+Comperj+causa+pol%EAmica foi desativado por motivo desconhecido.

Em relação ao que me perguntou:

Como ambientalista, como você vê a construção do Porto de Jaconé? Que tipo de impacto negativo a obra pode proporcionar ou já proporciona? E qual seria a melhor solução para o caso?

Responderei pela ordem:

Como ambientalista, como você vê a construção do Porto de Jaconé?

Acredito que ambientalistas de uma certa forma todos nós somos sempre que manifestamos a vontade de que algumas coisas sejam preservadas in natura, como engenheira e acima de tudo como cidadã vejo com muito maus olhos a construção do Porto de Jaconé, também chamado de TPN – Terminal Portuário de Ponta Negra, ou Porto do Pré-Sal, por conta de toda a forma escusa e tendenciosa que este empreendimento vem sendo conduzido nas esferas Federal e Estadual, e particularmente obscena a nível municipal.

Vejo pessoas, gestores municipais tratando com o cunho pessoal individual e partidário assuntos de tamanhas dimensões para toda uma sociedade, conduzindo como comício partidário atos que deveriam ser de participação popular, fazendo alterações nas legislações para atender aos empreendedores nacionais e estrangeiros e não ao contrário, fazendo com que estes cumpram a atual legislação para atender as exigências dos munícipes.

Os administradores agem como corretores imobiliários, na verdade como incorporadoras. Vendendo toda a cidade, recebendo suas comissões e sumindo! Deixam atrás de si um legado de destruição sem precedentes. Esquecem que como governantes decisões como estas não lhes pertencem, decisões de longo prazo, que influem diretamente no futuro da população somente a sociedade civil deve ser consultada, pois seus governos tem prazo de validade, a sobrevivência daquelas sociedades devem perpetrar dignamente diante as mesmas.

Deve ser analisada a cidade como um organismo, fomentando uma visão macro de todo o cenário instalado, as proposições e as propostas. Decidir por opinião popular e não populista. Falam mentiras, fazem intrigas, colocam uns contra outras e isto não é papel de um gestor, este deve zelar pela paz, segurança e o bom relacionamento entre os seus munícipes e a vizinhança.

A vida de cada morador não é moeda de troca, não é desprezível, nem mesmo insignificante, e neste sentido relembro que a base da democracia está no respeito às minorias e é para isso que as leis existem. Para que não haja como na época do nazismo a perseguição dos vizinhos, amigos, ou quem discorde da ampla maioria. Este é o princípio do respeito, no momento em que desrespeitamos as leis, estamos sendo autoritários e foras das leis, agindo como fascistas. Neste sentido envolvo tanto o Estado como a União, pois suas omissões os fazem coniventes da atrocidade administrativa que está instalada em Maricá.

Que tipo de impacto negativo a obra pode proporcionar ou já proporciona?

Devemos entender que impacto ambiental é qualquer alteração (física, química e biológica) do ambiente por determinada atividade ou ação, positiva ou negativa, grandes ou pequenas, de origem natural ou humana, que diretamente ou indiretamente afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota e a qualidade dos recursos ambientais, todos independentes de sua magnitude.

Desta forma os impactos estão muito mais além e não restringidos somente á OBRA em si, vai desde o processo de especulação imobiliária e financeira da construção, de viabilizar através de infrações legais, da intimidação dos que buscam outras formas para o desenvolvimento, já que o mesmo é subjetivo e não existe relação com os empreendimentos e sim com a forma de governo e administração, isto é, a competência de seus gestores. Assim como seu tempo, a vida útil do empreendimento em detrimento das sociedades afetadas, sua dependência de subsistência, o vício de recursos e a inter-relação direta pela falta de planejamento ao subdesenvolvimento. Em fim a universalização da miserabilidade.

É notável que desde a primeira especulação deste empreendimento especificamente, verificamos e podemos avaliar negativamente diversos impactos antes mesmo da execução e apresentação de seu projeto. Isto é um trauma ecológico resultante da ação do homem sobre o ambiente de forma significativa.

Devemos lembrar que o ambiente aqui em referencia não são tão somente os animais e plantas, pois muitos falam que os ambientalistas só defendem isto, o que é um erro. A análise dos impactos ambientais perpassa por toda a sociedade, meios antrópicos, econômicos, sociais, ecológicos, financeiros, entre outros.

A nível global o homem está revendo seus conceitos sobre natureza e sua inter-relação, entretanto, principalmente em Maricá estamos no sentido contrário a esta lógica, indo contra todos os novos paradigmas, comportamentos e inclusive de tecnologias, por fim novas formas de gestão dos recursos naturais e todo o seu ambiente (reforço, que nós seres humanos estamos neste meio).

Temos que ter em mente que somente o sistema capitalista e seus empreendedores usurpam tudo de forma famigerada com olhos ao lucro imediato e pouco se importando com um planejamento das sociedades. Pior que tudo isto, é estarmos reféns de administradores que se incorporam de poderes, que não lhes foram atribuídos e decidirem por todos às suas próprias vontades e interesses.

Em obras como estas, existem impactos diretos, indiretos, de vizinhanças, e até mesmo globais. A obra é poluidora, pois proporciona alterações físicas, química ou biológica, consequentemente o desequilíbrio do ecossistema, e cabe observar que qualquer agente causador desse problema é denominado de poluente, desta forma o TPN é um potencial poluente de grande magnitude.

O aterro da orla, a construção no mar, a construção sobre os Beachrocks, o desequilíbrio da praia das conchas, os aspectos culturais da comunidade local e vizinha, inclusive do Monumento da Sacristia, entre muitos outros que poderia apresentar aqui, serão afetados diretamente e de forma considerável.

Atento que neste momento não falarei de todos os processos impactantes, e os que abordei serão de forma superficial tanto quanto o já falado neste texto, pois verificamos que se utilizam de nossos trabalhos para nos momentos propícios nos contra argumentar, não havendo supressas, o que enfraquece a nossa luta .

Os administradores, independente de um projeto público ou privado deveriam saber mais a respeito do local, conhecer melhor cada área natural, urbana e rural envolvida, assim como o ambiente social. A intimidação social é um fator impactante para o meio ambiente e para as vidas humanas, assim como a sua autoestima. Além disso, torna-se necessário que se conheça a verdadeira vocação local e não a imposição econômica de terceiros. Relembro aqui caso não tenha conhecimento de que Maricá é um município pertencente á Costa do Sol na Região dos Lagos, conhecida pelas suas belezas naturais dentre elas a Serra da Tiririca e no seu litoral conta com 46 km de praias.

O desenvolvimento real virá antes até mesmo de se pensar em “viabilizar estes empreendimentos”, deverão verificar a proteção e preservação do ambiente e o crescimento e desenvolvimento econômico. O desenvolvimento tão falado que dizem sermos contra, na verdade nada tem a ver com desenvolvimento econômico, de indústrias, ou social e tantas outras. O que vem sendo proposto é o que mais já acontece: impacto em grandes áreas, devido ao rápido desenvolvimento econômico (de resposta somente imediata e não de longo prazo), sem o controle e manutenção dos recursos naturais. Isto é, a mesma fórmula predadora que vêm nos sucumbindo desde há muito tempo, gerando um outro tipo de impacto decorrente de um subdesenvolvimento consequente de ocupação urbana indevida, a falta de planejamento administrativo, a extinção de áreas protegidas e falta de saneamento básico, são algumas delas.

Desta forma o que é desenvolvimento para uns é subdesenvolvimento para outros.

O maior impacto a meus olhos está sendo na especulação, na condução da imposição do tal empreendimento em detrimento de tantos problemas por nós hoje já vividos pelo simples fato de ser bom politicamente para os políticos e não para o cidadão morador e vizinhos ao empreendimento, assim como a todos os impactados pelos mesmos mesmo que não em fronteira direta. Lembre-se de que Progresso e Prosperidade são coisas muito distintas, podemos ter progresso sem haver prosperidade no momento em que continuamos sem Educação adequada, Saneamento Básico que envolve água potável e escoamento de esgoto, um sistema de saúde eficiente e segurança pública. Se não possuímos nada disso hoje, haja visto os índices oficiais do município, como poderemos tê-los com a crescente onde populacional estimada em 400% para os próximos cinco anos. Por outro lado podemos prosperar social e economicamente sem que o progresso nos atropele.

E qual seria a melhor solução para o caso?

Para este caso, e em minha opinião pessoal, seria que este assunto deva ser tratado de forma transparente, com a seriedade que lhe é pertinente, imparcialidade de implantação de projetos, entre outras medidas visando o bem estar da população geral, aquela que migra e mesmo a que emigra.

Planejar e avaliar em busca de que um desenvolvimento econômico e qualidade de vida para que possam estar caminhando juntas. Preocupados com os vários significados do que cada ambiente têm para as pessoas e suas diferentes realidades. Desta forma deve-se fazer uma análise ambiental que estude as possíveis mudanças de características socioeconômicas e biogeofísicas de um determinado local, mas que seja possível e se tenha a opção do Não entre tantas outras a serem consideradas!

O desenvolvimento é algo subjetivo e cada sociedade deve escolher como quer se desenvolver, como e em que tempo.

Devemos levar em consideração que nosso planeta é composto por muitos ecossistemas e ambientes com características próprias, não podendo haver um padrão único. Acima de tudo além de levar a compreensão de todos de forma e linguagem acessíveis, de tudo que será modificado na sociedade e ambiente, a divulgação de resultados e análises idôneos, para que se possa efetivamente haver a tomada de decisão pela sociedade.

Desta forma deve-se Observar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, levando em conta a hipótese da não execução do mesmo por decisão popular, inclusive que a expansão urbana desordenada polui águas e solos; o derramamento de petróleo nas refinarias e nos terminais de embarque e desembarque e dos polos petroquímicos localizados em suas áreas, poluem e matam faunas e floras, além de vítimas sociais; a grande concentração de pessoas pelo litoral, garantem maior aumento no lançamento de esgotos em corpos hídricos (Maricá por exemplo tem 0% de captação e tratamento de esgotos, 5% de abastecimento de água, além de uma coleta de resíduos insipiente); a movimentação de portos e embarcações com doenças e demais problemas de origem estrangeira; a pesca predatória; a ocupação irregular do solo e a poluição causada por industrias instalados em áreas litorâneas; o desaparecimento de culturas, a prostituição e apenas para finalizar, o processo de favelização da mão de obra oriunda das construções destes empreendimentos que se movem em massa para os locais de trabalho com suas famílias.

A preservação do meio ambiente no Brasil em qualquer Estado e Cidade deveria ser um assunto prioritário da soberania nacional. Não é porque as terras no Acre, Rondônia, Pará e outros estados são baratas, que podemos deixar que empreendedores estrangeiros comprassem quantidades expressivas de território e fincassem suas bandeiras neles como se fossem uma extensão de seus países. Imagine se as Ilhas Marianas que estão sofrendo um processo de alagamento e obviamente uma redução de território resolvessem comprar uma área equivalente ao Mato Grosso e se mudassem para cá! Não seria Insólito, porém legitimo!?

Independentemente do grau de desenvolvimento das sociedades, os modelos de crescimento com base na exploração dos recursos naturais de forma voraz provocam um ciclo de degradação e destruição continuado e muitas vezes irreversíveis em curto prazo, inconsequente em médio prazo e irracional em longo prazo.

Ana Paula de Carvalho

De: A TRIBUNA NITERÓI [mailto:atribuna.niteroi]
Enviada em: quinta-feira, 16 de maio de 2013 12:41
Para: aalluuaapp
Assunto: Porto de Jaconé

Olá, Ana

Sou do jornal A TRIBUNA e peguei seu email com uma colega jornalista daqui.

Como ambientalista, como você vê a construção do Porto de Jaconé? Que tipo de impacto negativo a obra pode proporcionar ou já proporciona? E qual seria a melhor solução para o caso?

Obrigado!!

Sobre Ana Paula Carvalho Silva

apc_anapaula@hotmail.com
Esse post foi publicado em Denúncias, Início, Maricá, Movimento LUTO por Maricá, Notícias, Opinião, SOS JACONÉ PORTO NÃO. Bookmark o link permanente.

Uma resposta para A TRIBUNA: Porto de Jaconé – Entrevista na Íntegra

  1. Denise Arias disse:

    Parabéns Ana Paula! muito boa a sua entrevista e muito verdadeira. Com relação aos comentários deixados acima, acho que existem pessoas que realmente não querem saber o que está acontecendo ou se sabem, preferem ignorar. Aliás, contradizendo o que o colega colocou acima, não somos cachaceiros! engano seu amigo! os ambientalistas de Maricá são pessoas sérias e dentre elas, advogados, geólogos, biólogos, médicos e muitos pesquisadores e por aí vai… O grande problema, é que o poder público quer conduzir tudo com rapidez e se esquece que podemos realizar muitas coisas, mas com responsabilidade! Maricá vem sendo foco de muitas notícias. Porto, Dutos do COMPERJ e APA. Muitas pessoas não entendem que a lei está sendo burlada para a realização de tais projetos. Corrução é o problema do nosso país! Grande abraço, Denise (APALMA).

Deixe um comentário